sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Manawee
Mulheres e Homens que correm com os lobos
Baseado no livro Mulheres
que correm com os lobos
De Clarissa Pinkola Estes
Nosso desejo é
proporcionar um espaço de reflexão e criatividade onde o feminino possa continuar
expressando e resgatando suas verdades e o masculino, o homem selvagem, também
possa conhecer com profundidade alguns ensinamentos da dimensão do feminino e a
verdadeira natureza da mulher.
“Se as mulheres
querem realmente que os homens as conheçam, elas têm que ensinar algo da alma
feminina. E, se os homens demonstram disposição para compreender é preciso
também caminhar em direção à linguagem do feminino.”
A natureza dual da mulher
Embora cada lado da natureza de uma mulher represente uma
entidade separada devem funcionar como um todo. Se a mulher esconde um dos
lados ou privilegia um dos lados em demasia, ela tem uma vida desequilibrada
que não lhe permite acesso a seu pleno poder. Portanto é necessário desenvolver
os dois lados.
A mulher tem enormes poderes
quando os aspectos duais individuais são reconhecidos conscientemente e
considerados como uma unidade, mantidos unidos em vez de separados.
A perda dos poderes
psicológicos, emocionais e espirituais das mulheres tem como origem a separação
dessas duas naturezas e a simulação de que uma delas não mais existia.
O homem também tem sua
própria natureza dual, no conto Manawee tem o lado humano e o lado cachorro.
Sua natureza humana, embora
simpática e carinhosa, não lhe basta para ter sucesso, é a sua natureza canina,
seu lado instintivo que tem a capacidade de se esgueirar até as mulheres
selvagens e, com sua audição aguçada ouvir seus nomes.
Manawee representa um
amante, cujo desejo principal é o de identificar e compreender o numinoso duplo
na natureza feminina.
Manawee
Era uma vez um homem que
vinha cortejar duas irmãs gêmeas.
- Você não poderá se casar
com elas a não ser que consiga adivinhar seus nomes - dizia, porém, o pai das
moças.
Manawee tentava e tentava,
mas não conseguia adivinhar os nomes das irmãs. O pai das moças abanava a
cabeça e mandava Manawee embora todas às vezes.
Um dia Manawee levou seu
cachorrinho junto numa visita de adivinhação, e o cachorro percebeu que uma
irmã era mais bonita do que a outra e que a outra era mais delicada do que a
primeira. Embora nenhuma das duas irmãs possuísse todas as virtudes, o
cachorrinho gostou muito delas porque elas lhe deram petiscos e sorriam olhando
fundo nos seus olhos.
Também naquele dia Manawee
não conseguiu adivinhar os nomes das jovens e voltou irritado para casa. O
cachorrinho, porém, voltou correndo para a choupana das irmãs. Ali ele enfiou a
orelha por baixo de uma das paredes laterais e ouviu as moças dando risinhos e
falando sobre como Manawee era bonito e másculo. Enquanto falavam, as irmãs se
chamavam mutuamente pelo nome, e o cachorrinho, tendo ouvido, voltou correndo
com a maior velocidade possível para seu dono para lhe passar a informação.
No caminho, porém, um leão
havia deixado um grande osso ainda com carne perto do caminho, e o minúsculo
cachorrinho sentiu imediatamente o cheiro, não pensou em mais nada e se desviou
mato adentro arrastando o osso. Ali, ele lambeu e mordiscou o osso com grande
prazer até que todo o sabor desapareceu. Ah! O pequeno cãozinho de repente se
lembrou da tarefa esquecida, mas infelizmente ele também havia esquecido os
nomes das moças.
Por isso, ele correu de
volta à choupana das gêmeas e dessa vez já era de noite e as jovens estavam
passando óleo nos braços e pernas uma na outra e se arrumando como se fosse
para uma festa. mais uma vez o cãozinho as ouviu chamando-se mutuamente pelo
nome. Ele deu pulos de alegria e estava correndo pelo caminho afora na direção
da choupana de Manawee quando do meio do mato veio o aroma de noz-moscada
fresca.
Ora, não havia nada que o
cachorrinho adorasse mais do que noz-moscada. Por isso, se desviou um pouco do
caminho e correu para o lugar onde uma bela torta de laranjas estava esfriando
em cima de uma tora. Bem, logo a torta já não existia mais, e o cachorrinho
tinha um adorável hálito de noz-moscada. Enquanto trotava de volta para casa
com a pança cheia, tentou pensar nos nomes das moças, mas, mais uma vez, ele os
havia esquecido.
Finalmente, o cachorrinho
tornou a voltar correndo até a choupana das irmãs, e dessa vez as irmãs estavam
se preparando para casar. "Ah, não!" pensou o cachorrinho,
"quase não tenho mais tempo." E, quando as irmãs se chamaram pelo
nome, ele guardou os nomes na mente e saiu em disparada, com a determinação
resoluta e absoluta de que nada iria impedi-lo de transferir os preciosos nomes
a Manawee imediatamente.
O cãozinho vislumbrou caça
pequena recém-morta no caminho, mas a ignorou e saltou por cima dela. Por um
instante, pareceu-lhe sentir o aroma de noz-moscada no ar, mas ele o ignorou e
preferiu continuar correndo na direção da sua casa e do seu dono. No entando,
ele não contava com a possibilidade de um estranho de negro saltar do mato,
agarrá-lo pelo pescoço e sacudi-lo ao ponto de seu rabo quase cair. Pois, foi o
que aconteceu.
- Diga-me aqueles nomes!
Diga-me os nomes das moças para que eu as possa conquistar - gritava o estranho
o tempo todo.
O cãozinho achou que ia
desmaiar com aquele punho lhe apertando o pescoço, mas lutou com bravura. Ele
rosnou, arranhou, esperneou e, afinal, mordeu o estranho entre os dedos. Os
dentes do animal picavam como vespas. O estranho berrava como um
búfalo-da-índia, mas o cãozinho não soltava. O estranho correu pelo mato
adentro com o cãozinho pendurado numa das mãos.
- Solte-me, solte-me,
cãozinho, e eu o soltarei - implorou o estranho de negro.
- Não volte por aqui -
rosnou entre dentes o cãozinho - ou não verá mais a luz do dia. - E assim o
estranho fugiu pelo mato, gemendo enquanto corria. O cachorrinho prosseguiu
meio mancando, meio correndo, pelo caminho até encontrar Manawee.
Muito embora seu pêlo
estivesse sujo de sangue e suas mandíbulas doessem, os nomes das jovens estavam
bem nítidos na sua mente, e ele se aproximou de Manawee, claudicante, mas feliz
da vida. Manawee correu de volta até a aldeia das moças com o cachorrinho nos
ombros, e as orelhas do cachorro dançavam ao vento como rabos de cavalos.
Quando Manawee chegou até o
pai com os nomes das filhas, as gêmeas receberam Manawee completamente vestidas
para viajar com ele. Elas haviam estado à sua espera o tempo todo. Foi assim
que Manawee conquistou duas das donzelas mais belas da região. E todos os
quatro, as irmãs, Manawee e o cãozinho, viveram juntos em paz por muito tempo.
Krik Krak Krout, now this story is out.
Krik Krak Krun, now this story is done.
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